Ode Visceral

Abro o livro da guerra terminado o desabafo

Arfo, como se a caneta fosse um garfo.

Pessoa, vilão e cabrão. Grande cavalgada.

Inaugurada a reunião dos egos polimorfos.

 

Batizados pelo Buddha, banalizados pela batida.

Assoberbados pela missão de vaguear por esta vida.

Multiplicados pela ilusão de realidade da subida,

o mito é tão real. Já não sei da minha bebida.

 

A peste da razão turvou a tua visão.

A tua imaginação foi a tua maior maldição

e o teu dom. Mais do que o pirata que se afogou.

Exceto a mão. Eras tu, o herói da nação.

 

Nasceste na natureza antes de voares à histeria.

Coroado sem cerimónia e tão perto, todavia.

“Perto demais!” Era certo que alguém o diria.

Nem Ícaro se despenhou com tamanha cacofonia.

 

Quase que chegaste ao final da arca perdida

Só não esticaste a mão como quem agarra a vida.

Acobardaste-te, disseste adeus ao mundo e sonhaste.

Talvez tenhas escrito um poema defunto que não publicaste.

Timidez? Tenta lá outra vez: um, dois, três.

Como o vês, vilão em português. Sem clichês.

Ruína para os miúdos? Ofereço-lhes gelado.

Enquanto tu te escondes a chorar, desolado.

 

Sonhaste que eras um cristo revolucionário? Devolve o mapa.

Viste-me no oceanário? Vira à esquerda, meu chapa.

Máscara de metal, a lâmina na ponta dos dedos.

Disseco todos os teus medos, segredos e bruxedos.

 

Eu sou o cabrão condenado à nascença.

Eu sou um vilão, o meu poder é indiferença.

Onde viste depressão e o colapso da existência,

Encontrei inspiração, a vitória da consciência.

Quando o mundo me rosnou, ouviu-me rugir de volta.

O tigre que carrego ao ombro é símbolo da minha revolta.

 

Chego finalmente à casa que ergueste.

Tu, o Grande Poeta. E eu, que nem um fui.

Abriste a passagem, mas antes de entrar pereceste.

O que as pessoas começam, o cabrão conclui.

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