Interlúdio

Por esta altura, já deves perceber mais ou menos o que se passa aqui. Senão, deixa-me pintar-te o Picasso. Este é um conto de contos, um sonho de sonhos. Uma história, um sonho, uma vida: qual é a diferença, afinal? Não existe uma sequência cronológica, porque afinal de contas o tempo é uma construção humana, criada para que possamos manter a ilusão de que temos algum controlo do que se passa à nossa volta. Passado, presente e futuro. Um ponto e vírgula e pêras.

Substitui-se a mentira da ordem temporal pela vontade de contar uma história; a mais incrível, caótica e baseada em factos irreais que vivi em qualquer uma das minhas vidas. Desabafei contigo, fiz-te perder o teu tempo. Contei-te os meus sonhos, mas vivi tantos mais. E o melhor ainda está para vir, não gostamos todos de acreditar nisso? Não me lembro de muitos e alguns até fiz por esquecer.  Mas falhei. Aquilo que mais quis agarrar escapou-me por entre os dedos; o que mais quis evitar persegue-me como uma sombra. Não importa, já nada importa. Mergulhei na sombra e agarrei-a pela mão. Tornei-me num cabrão, um vilão reencarnado no jardim à beira-mar plantado, tão descurado e maltratado. Alguém chamou o jardineiro? Já sei o que vais dizer, Caeiro …

Apanhei a máscara do grande poeta e tornei-me nele; esta é a história de como isso aconteceu. Não a escrevo por ambição de riqueza ou fama, mas porque é a única forma que conheço de a contar. Não o faço para os outros, mas apenas para nós. Dou-me por contente se a conseguir escrever antes que ela acabe por me engolir, como vem tentando fazer desde o primeiro capítulo.

Se depois disto tudo ainda estás a ler, prometo que não vais encontrar aqui nenhuma literatura inspirada. Os sonhos não têm nenhum significado oculto, não mais do que aquele que o sonhador lhe quiser dar. Os finais não são felizes, nem tristes. Simplesmente são finais, e dão lugar ao próximo sonho que é tão desprovido de sentido como o que o precede. Deixo as grandes conclusões e os finais satisfatórios para os profissionais. O meu trabalho aqui é fazer a reportagem imparcial de uma realidade literal, a mais real que alguma vez vou conhecer.

Todas as narrativas, personagens e eventos são baseados em sonhos reais.

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